terça-feira, 16 de novembro de 2010

SOFRER É UMA QUESTÃO PESSOAL

Ele chegou pela primeira vez na Casa Espírita. Sorridente, calmo, diria alegre. Parecia que nenhum problema o afetava. Disse que seu nome era Luiz Antonio e que tinha um irmão chamado José Augusto. Logo em seguida, contou essa história interessante.
“Meu pai sempre foi um católico dedicado. Estudioso, leu alguns livros espíritas de fundo filosófico e moral, mas nenhuma obra da Codificação. Assim, não chegou a conhecer os fundamentos básicos da Doutrina dos Espíritos. Desencarnou em 1985, 3 dias após a morte de Tancredo Neves. Em novembro de 1982, ainda se encontrava entre nós e alguns dias antes da desencarnação de Carlinhos, filho de meu irmão, trocava conversa com um grande amigo que até hoje meu irmão considera como um segundo pai e que, também, não é versado na Doutrina Espírita. Perguntou-lhe: - Professor (o amigo de meu irmão foi professor no interior de Goiás), não entendo esse menino meu filho, o Zé Augusto. Aconteceram tantas coisas com ele: morte do sogro, doença prolongada e morte da esposa, agora o filho Carlinhos com essa doença terrível que é o câncer. Mesmo assim, diante de tudo isso, ele está sempre sério. Qualquer um estaria chorando pelos cantos ou vociferando contra Deus. O Zé nunca reclamou de nada, nem de cansaço. Por que será?
O segundo pai respondeu: - Sêo Nicomedes, conheço o Zé Augusto a muitos anos e também nunca ouvi qualquer reclamo dele. Está sempre alegre, sorridente como se o mundo estivesse isento de problemas, com todas as pessoas vivendo em paz e harmonia. Uma vez perguntei-lhe por que ele estava sempre assim, por que eu não o tinha visto chorar nunca. Ele me disse que chorava sim, que era emotivo. Que mais parecia uma manteiga derretida. Então insisti pra ele contar-me porque parecia ver o mundo cor-de-rosa, se ele não sofria com a dor. Ele me respondeu que não sofria. Que tinha compreendido, com o passar dos anos que tudo que aconteceu ou acontecia na vida dele foram e eram bênçãos de Deus pra que ele progredisse na sua encarnação, ficando mais perto dos bons espíritos. Então você é frio? Insensível – insisti. Ele, novamente, “não, sou como qualquer outra pessoa só que não sofro porque compreendo que sofrimento pode ser confundido com egoísmo. Que Deus poderia pensar – dei tantas oportunidades pro Zé Augusto progredir e ele fica choramingando pelos cantos como um bebê abandonado! E completou, sêo Nicomedes – “aprendi que a gente sofre como quer, quanto quer e pelo tempo que quiser”. Então concluí: pra que sofrer?”
Pois foi assim sêo Nicomedes.
Luiz Antonio sorriu e contou que, recentemente, encontrou Zé Augusto e foi logo dizendo que o admirava como seu ídolo, pois era pobre e nunca reclamara de nada, nem de ninguém, estava sempre de alto astral. Zé Augusto, então, comovido, chorou, sereno, enquanto lágrimas escorreram pela face.
Luiz Antonio continua freqüentando a Casa Espírita. É calado, raramente, interrompe os coordenadores das reuniões públicas pra perguntar alguma coisa. Não parece agoniado, mas, sequioso de aprendizado. De vez em quando conta alguma coisa a respeito de Zé Augusto, sempre muito interessante, como se seu irmão nunca demonstrasse sofrimento ou que sofrer seja uma questão pessoal – só sofre quem quer, como quer, quanto quer e durante o tempo que quiser.

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